Thursday, February 22, 2007

Bolachas

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. A andar. Na rua. Como quaisquer dois mercados normais. A andar na rua. Toc, toc, toc.

De repente, cruzam-se com um mercado a andar em ziguezague pela rua, carregando um pacote de bolachas na mão, enquanto balbuciava aos ventos: "O que é meu é bom! O que é meu é bom!"

Um dos mercados vira-se para o outro e diz:

"- Olha! O Mercado Nacional está a delirar outra vez!"

"- Sim! Mas é verdade que o que é dele é delicioso!"

Tuesday, February 20, 2007

Lenha

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. A andar. Na rua. Como quaisquer dois mercados normais. A andar na rua. Toc, toc, toc.

De repente, passa por um eles, um pequeno tronco barrigudo, que se dirige a um hipermercado Continente, de onde volta com vários maços de dinheiro. Encaminha-se para um jornal (com as palavras "regional" escritas na camisola) e deixa lá um dos maços. A seguir, pára num clube de futebol ao pé do mar e deixa lá outro. Por último, passa por uma empresa de construção e deixa lá outro para fazer obra.

Um dos mercados vira-se para o outro e diz:

"- Olha! Lá está o Mercado da Madeira a rachar lenha!"

Wednesday, February 14, 2007

Sobre "O Capital"

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. A andar. Na rua. Como quaisquer dois mercados normais. A andar na rua. Toc, toc, toc.

De repente, vêem, de pé, em cima de um caixote velho, um mercado alto e calvo, com uma barbicha afilada, fato coçado, a discursar para uma pequena multidão de mercados que o escutava atentamente, de punho esquerdo erguido no ar, enquanto entoavam baixinho a Internacional ("De pé, ó vítimas da fome / Não mais, não mais a servidão"). Um pequeno anjo alemão apoiava-o fisicamente e acenando positivamente a cada grito de ordem que ele exclamava:

"- E a propriedade dos meios de produção não será de apenas um mercado, mas de todos, será colectiva. Todos os mercados terão tudo e nada terão. Valorizaremos o trabalho de cada mercado, e instauraremos a ditadura do proletariado mercantil sobre a retórica imperialista dos mercados de capitais!"

Um dos mercados vira-se para o outro e diz:

"- Fogo! Parece que vem aí a revolução do Mercado Marxista!"


P.S.- Dão-se alvíssaras a quem perceber a do anjo...

Sunday, February 04, 2007

E viva a bola!

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. A andar. Na rua. Como quaisquer dois mercados normais. A andar na rua. Toc, toc, toc.

De repente, cruzam-se com outro mercado, vestido com um fato de treino, que vai a fugir de uma série de outros mercados vestidos de fato, a segurarem em jornais coloridos numa mão e em gravadores com a outra e que o bombardeavam de perguntas:

-"Quer comentar a transferência de Denilson para o Porto?"

-" Sempre é verdade que o filho do João Pinto vai para o Sporting?"

-"O Fernando Santos disse que ia à procura de um avançado. Pode-nos dizer o nome?"

Um dos mercados vira-se para o outro e comenta:

-"Já viste os jornais desportivos a tentarem sacar alguma notícia do Mercado Futebolístico de Inverno?"