Pandémicos

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. Normalmente. Pela rua. A andar. Como quaisquer dois mercados normais. Toc, toc, toc.

De repente, ao dobrarem uma esquina, deparam-se com vários mercados prostrados no chão, todos de máscara cirúrgica. Uns vestiam fardas de comandantes e hospedeiras de aviões, outros trajavam de empregados de mesa e hoteleiros. Todos se arrastavam, penosamente, enquanto diziam a mesma ladainha - "2020 mata-nos. Precisamos de apoios". Ao lado, outros mercados, esqueléticos, mortos de fome, discutiam sobre se a culpa era da China ou dos Estados Unidos, se o vírus era real ou se deviam ou não usar máscara, enquanto outros mercados com t-shirts a dizer "hackathon" de empresas de tecnologia comiam fillet-mignon e ostras e controlavam encomendas nos telefones móveis.

Um dos mercados vira-se então para o outro e diz:

- "O Mundo mudou! Achamos que ainda vamos a tempo de subir para a Nuvem?".

Ratings

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. Normalmente. Pela rua. Como quaisquer dois mercados normais. Toc, toc, toc.

De repente, ouve-se o barulho de um camião na rua, e um dos mercados, olha para trás, e grita para o outro:

- "Rápido! Corre!"

E começam os dois a correr pela rua abaixo, esbaforidamente, enquanto ouvem o barulho do camiãoa aproximar-se. Subitamente, sentem umas grandes mãos a agarrá-los, uma exclamação "Já os apanhámos!" e são atirados para dentro de um contentor de lixo!

Um dos mercados vira-se então para o outro e diz:

- "Pronto! Os ratings atiraram-nos outra vez para o lixo!"

- "Todas as terças-feiras é a mesma coisa..."

A ficar mais pequeno

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. Normalmente. Pela rua. A andar. Como quaisquer dois mercados normais. Toc, toc, toc.

De repente, um dos mercados começa a minguar rapidamente, tornando-se cada vez mais pequeno, ao mesmo tempo que grita “Ajudem-me, ajudem-me! Preciso de subsídios!”. O outro mercado vira-se grita para os mercados traunsentes:

- "Mas o que é que se passa? Alguém sabe o que é que se passa?"

Ao que outro mercado responde:

- "Foge! É um mercado em declínio!"

Olhos em bico

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. Normalmente. Pela rua. A andar. Como quaisquer dois mercados normais. Toc, toc, toc.

De repente, um dos mercados começa a abanar convulsivamente, a exalar um forte cheiro a mar e peixe e a emanar uma forte fosforescência verde. Um dos mercados vira-se para o outro e diz:

- "Mas o que é que se passa? Estás a abanar muito! E com mau cheiro, como se uma onda gigante te tivesse apanhado! E estás a irradiar verde! Mas o que é que se passa? Os mercados não são assim!"

- "Fala por ti! É que eu sou um mercado japonês!"

Diminuir de tamanho

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. Normalmente. Pela rua. A andar. Como quaisquer dois mercados normais. Toc, toc, toc.

De repente, cruzam-se com um mercado que, enquanto caminhava, ia progressivamente diminuindo de tamanho. Vira-se um mercado para o outro e diz:

- "Já viste aquilo? Aquilo não faz sentido nenhum!!! Aquele mercado, enquanto anda para a frente está a ficar mais pequeno! Isto não faz sentido!"

- "Não lhe ligues! É um mercado em recessão..."

Palpitações...

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. Normalmente. Pela rua. A andar. Como quaisquer dois mercados normais. Toc, toc, toc.

De repente, cruzam-se com um mercado, vestido de fato e ar sério, a tremer por todos os lados, e que, extemporaneamente, soltava um grito abrupto, sem nexo, para o ar. Um dos mercados vira-se para o outro e diz:

- "Rápido! Foge! Vem aí um mercado em turbulência!"

Lavagem

Vão dois mercados a andar na rua. Dois mercados. Normalmente. Pela rua. A andar. Como quaisquer dois mercados normais. Toc, toc, toc.

De repente, vêem um mercado a sair encharcado de dentro de uma máquina de lavar, com um ar esgazeado e a roupa enorme, com mangas de casaco e pernas de calças a sobrarem em relação ao corpo, desproporcionados.

Vira-se um mercado para o outro e diz:

- "Olha, um mercado em downsizing"